Kansas State University

Prédio da Kansas State University.

Universidade de Utah

Fachada do Departamento de Filosofia da Universidade de Utah.

Universidade de Pradesh Arni

Uma das fachada da Pradesh Arni University, na Índia.

University PrimeTime

Paisagem da Marist University / University PrimeTime, nos Estados Unidos.

Universidade de Oxford

Anglian College, da Universidade de Oxford.

A Secretaria de Educação de Jaguaruana e o IFCE fazem enquete no link:

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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Fernando Pessoa e boas festas





Prezados amigos do blog "Transver o Mundo", ontem (15 de dezembro) fizemos 1 ano e 1 mês de existência. Aproveitando para celebrar também com o momento natalino e de fim de ano, presenteio a todos os internautas com uma bela sequência de poesias do grande Fernando Pessoa. Um abraço a todos e boas festas!

E viva Portugal!

Fernando Pessoa
 
I - Primeira Parte: Brasão
               Bellum sine bello.
          I. OS CAMPOS 
          PRIMEIRO / O DOS CASTELOS 
          A Europa jaz, posta nos cotovelos:
          De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
          E toldam-lhe românticos cabelos
          Olhos gregos, lembrando.
          O cotovelo esquerdo é recuado;
          O direito é em ângulo disposto.
          Aquele diz Itália onde é pousado;
          Este diz Inglaterra onde, afastado,
          A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
          Fita, com olhar sphyngico e fatal,
          O Ocidente, futuro do passado.
          O rosto com que fita é Portugal.
 
          SEGUNDO / O DAS QUINAS
 
          Os Deuses vendem quando dão.
          Comprase a glória com desgraça.
          Ai dos felizes, porque são
          Só o que passa!
          Baste a quem baste o que Ihe basta
          O bastante de Ihe bastar!
          A vida é breve, a alma é vasta:
          Ter é tardar.
          Foi com desgraça e com vileza
          Que Deus ao Cristo definiu:
          Assim o opôs à Natureza
          E Filho o ungiu.
 
          II. OS CASTELOS 
 
          PRIMEIRO / ULISSES 
          O mytho é o nada que é tudo.
          O mesmo sol que abre os céus
          É um mytho brilhante e mudo —-
          O corpo morto de Deus,
          Vivo e desnudo.
          Este, que aqui aportou,
          Foi por não ser existindo.
          Sem existir nos bastou.
          Por não ter vindo foi vindo
          E nos criou.
          Assim a lenda se escorre
          A entrar na realidade,
          E a fecundá-la decorre.
          Em baixo, a vida, metade
          De nada, morre.
 
          SEGUNDO / VIRIATO 
          Se a alma que sente e faz conhece
          Só porque lembra o que esqueceu,
          Vivemos, raça, porque houvesse
          Memória em nós do instinto teu.
          Nação porque reencarnaste,
          Povo porque ressuscitou
          Ou tu, ou o de que eras a haste —
          Assim se Portugal formou.
          Teu ser é como aquela fria
          Luz que precede a madrugada,
          E é ja o ir a haver o dia
          Na antemanhã, confuso nada.
 
          TERCEIRO / O CONDE D. HENRIOUE
          Todo começo é involuntáario.
          Deus é o agente.
          O herói a si assiste, vário
          E inconsciente.
          À espada em tuas mãos achada
          Teu olhar desce.
          «Que farei eu com esta espada?»
          Ergueste-a, e fez-se.
 
          QUARTO / D. TAREJA
          As naçôes todas são mystérios.
          Cada uma é todo o mundo a sós.
          Ó mãe de reis e avó de impérios,
          Vela por nós!
          Teu seio augusto amamentou
          Com bruta e natural certeza
          O que, imprevisto, Deus fadou.
          Por ele reza!
          Dê tua prece outro destino
          A quem fadou o instinto teu!
          O homem que foi o teu menino
          Envelheceu.
          Mas todo vivo é eterno infante
          Onde estás e não há o dia.
          No antigo seio, vigilante,
          De novo o cria!
 
          QUINTO / D. AFONSO HENRIQUES
          Pai, foste cavaleiro.
          Hoje a vigília é nossa.
          Dá-nos o exemplo inteiro
          E a tua inteira força!
          Dá, contra a hora em que, errada,
          Novos infiéis vençam,
          A bênção como espada,
          A espada como benção!
 
          SEXTO / D. DINIS
          Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
          O plantador de naus a haver,
          E ouve um silêncio múrmuro consigo:
          É o rumor dos pinhais que, como um trigo
          De Império, ondulam sem se poder ver.
          Arroio, esse cantar, jovem e puro,
          Busca o oceano por achar;
          E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
          É o som presente desse mar futuro,
          É a voz da terra ansiando pelo mar.
 
          SÉTIMO (I) / D. JOÃO O PRIMEIRO
          O homem e a hora são um só
          Quando Deus faz e a história é feita.
          O mais é carne, cujo pó
          A terra espreita.
          Mestre, sem o saber, do Templo
          Que Portugal foi feito ser,
          Que houveste a glória e deste o exemplo
          De o defender.
          Teu nome, eleito em sua fama,
          É, na ara da nossa alma interna,
          A que repele, eterna chama,
          A sombra eterna.
 
          SÉTIMO (II) / D. FILIPA DE LENCASTRE
          Que enigma havia em teu seio
          Que só gênios concebia?
          Que arcanjo teus sonhos veio
          Velar, maternos, um dia?
          Volve a nós teu rosto sério,
          Princesa do Santo Graal,
          Humano ventre do Império,
          Madrinha de Portugal!
 
          III. AS QUINAS 
          PRIMEIRA / D. DUARTE, REI DE PORTUGAL
          Meu dever fez-me, como Deus ao mundo.
          A regra de ser Rei almou meu ser,
          Em dia e letra escrupuloso e fundo.
          Firme em minha tristeza, tal vivi.
          Cumpri contra o Destino o meu dever.
          Inutilmente? Não, porque o cumpri.
 
SEGUNDA / D. FERNANDO, INFANTE DE PORTUGAL
          Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
          A sua santa guerra.
          Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
          Às horas em que um frio vento passa
          Por sobre a fria terra.
          Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
          A fronte com o olhar;
          E esta febre de Além, que me consome,
          E este querer grandeza são seu nome
          Dentro em mim a vibrar.
          E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
          Em minha face calma.
          Cheio de Deus, não temo o que virá,
          Pois venha o que vier, nunca será
          Maior do que a minha alma.
 
          TERCEIRA / D. PEDRO, REGENTE DE PORTUGAL
          Claro em pensar, e claro no sentir,
          É claro no querer;
          Indiferente ao que há em conseguir
          Que seja só obter;
          Dúplice dono, sem me dividir,
          De dever e de ser —
          Não me podia a Sorte dar guarida
          Por não ser eu dos seus.
          Assim vivi, assim morri, a vida,
          Calmo sob mudos céus,
          Fiel à palavra dada e à idéia tida.
          Tudo o mais é com Deus!
 
          QUARTA / D. JOÃO, INFANTE DE PORTUGAL
          Não fui alguém. Minha alma estava estreita
          Entre tão grandes almas minhas pares,
          Inutilmente eleita,
          Virgemmente parada;
          Porque é do português, pai de amplos mares,
          Querer, poder só isto:
          O inteiro mar, ou a orla vã desfeita —
          O todo, ou o seu nada.
 
          QUINTA / D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL
          Louco, sim, louco, porque quis grandeza
          Qual a Sorte a não dá.
          Não coube em mim minha certeza;
          Por isso onde o areal está
          Ficou meu ser que houve, não o que há.
          Minha loucura, outros que me a tomem
          Com o que nela ia.
          Sem a loucura que é o homem
          Mais que a besta sadia,
          Cadáver adiado que procria?
Fonte: jornal da poesia: http://www.revista.agulha.nom.br/pessoa.html