Maio de 2013, o Brasil se prepara para receber a Copa das Confederações, uma espécie de evento preparatório um ano antes da Copa do Mundo realizado pela FIFA.
Desde janeiro, a população brasileira era bombardeada com propagandas de grandes corporações e empresas querendo associar suas marcas e produtos ao futebol. "País do futebol", "Pátria de chuteiras", os lugares comuns de sempre repetidos ad infinitum e com a boa dose de criatividade dos astutos profissionais da propaganda brasileira.
Paralelo a esse movimento midiático circulavam nas redes sociais reflexões sobre os gastos públicos da Copa, principalmente nas cidades sede que iriam receber jogos das seleções estrangeiras. Bilhões de reais envolvidos, ganhos garantidos para a FIFA, obras inacabadas ou terminadas às pressas, dívidas a serem pagas no próximo século.
Acrescido esse cenário aos impactos negativos que a Copa traria, como os transtornos na rotina das cidades sede (e ainda lembrar que o PIB brasileiro subiu apenas 0,1% em 2014, ano da Copa, mesmo com todos os 'investimentos' e milhões de turistas transitando pelo país), somaram-se as pérolas de estrelas nacionais defendendo os investimentos no evento mundial em detrimento de hospitais e escolas públicas...
Aquele momento foi histórico, não pelo esporte em si, mas pelo que estava prestes a acontecer no âmbito político e social, cujo teor tinha muito de inesperado, intenso, além de único na história do Brasil. O movimento social que ficou conhecido como Manifestações de Junho de 2013, uniu pessoas de várias gerações, principalmente jovens mobilizados pelos gastos exorbitantes com a festa do futebol associado aos serviços públicos de sempre sendo nivelados pelo "não tem verba", ou seja, a falta de recursos financeiros para assistir à população no dia-a-dia.
Defendendo pautas de avanço nos ganhos sociais, (como melhorias na saúde pública e educação básica, além do fim da famigerada PEC 37), os manifestantes de então deixaram claras sinalizações para os políticos encastelados em Brasília que, acuados, aprovaram várias das demandas das ruas, em tempo recorde e em período de recesso parlamentar!
Contabilizou-se em mais de 250 cidades manifestações por todo o Brasil. Só nas capitais foram milhões nas ruas...
Junho de 2014, o medo de que a Copa fosse um desastre nacional tomou conta de muitos "patriotas", dentre os quais previam que o evento seria um fiasco. Outros temiam novas convulsões sociais, aumento da criminalidade e até atentados terroristas.
Mais uma vez, os manifestantes compareceram às ruas, dando sinais de que "o gigante havia acordado" (imagem também cooptada pela indústria do entretenimento), basicamente reivindicavam que a Copa deveria passar por uma apreciação mais justa, mais crítica e menos ufanista, menos parcial dos fatos.
Numa conta simples se constatou que, com os esforços e o dinheiro empregados nos estádios, dentre outros gastos, teríamos avançado alguns dígitos em IDH - Índice de Desenvolvimento Humano em alguns anos.
No final, todos entraram no clima, seja torcendo pela seleção da Holanda, ou da Argentina, ou dos Camarões, ou do México: os números e a alegria dos brasileiros e dos turistas mostrou que a Copa foi um sucesso em termos de evento realizado com êxito logístico tal como pela alegria contagiante do brasileiro. Esse sentimento só foi ofuscado pelo amargo 7 x 1.
Abril de 2016, mas agora, tratando mesmo das Olimpíadas 2016 no Brasil. Alguém tem acompanhado os preparativos finais do maior evento mundial que vai acontecer em nosso país?
A organização do evento parece estar totalmente entregue
ao estado do Rio de Janeiro e à cidade sede, visto que o poder central
do país está se defendendo de sucessivas tentativas de assalto ao poder.
E não só o governo federal, parece que nós não podemos ter a oportunidade de pensar esse evento, tão mais importante que a Copa, repetindo, o maior evento do mundo! Além de não aproveitarmos os prazeres de sermos anfitriões, pior, estamos perdendo uma OPORTUNIDADE DE OURO de promover na população, notadamente entre as crianças e os jovens, os valores essenciais que os esportes sabem muito bem transmitir.
Só para lembrar: contanto do dia que escrevo esse texto, faltam 126 dias para o INÍCIO dos Jogos Olímpicos. E alguns dias depois, começam os Jogos Paralímpicos, por sinal, evento no qual os atletas brasileiros nos tem dado muito orgulho.
Não sei com que garra os brasileiros entrarão para conquistar medalhas, se depender do clima atual, nenhum. Também não sei com que ânimo os brasileiros torcerão pelos nossos atletas e equipes, como acolherão no Rio as outras delegações, os visitantes, os líderes de estado presentes.
Para deixar uma inspiração para os leitores, trago o exemplo do ginasta Arthur Zanetti, um cara baixinho, humilde, de energia boa, nascido em São Caetano do Sul, que saiu medalhista olímpico de Londres em 2012. Zanetti o "único brasileiro e o primeiro latino-americano a conquistar uma medalha
olímpica de ouro em qualquer das categorias de seu esporte".
Sei que o Brasil é cheio de surpresas, que pode nos últimos segundos da prorrogação nos surpreender; mas realmente gostaria que os poderosos parassem de disputar quem vai abrir o evento olímpico e se empenhassem na preparação do país, nas melhorias que faltam na casa e que ainda faltarão depois do evento quando estivermos contando as medalhas que ficarão aqui.
Fontes consultadas:
http://www.rio2016.com/
http://www.arthurzanetti.com.br/conquistas/
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/03/1608985-pib-cresce-01-em-2014-aponta-ibge.shtml
http://amp-mg.jusbrasil.com.br/noticias/100566304/ministerio-publico-sofre-cerco-de-projetos-que-reduzem-seus-poderes
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Zanetti
Prezado e atento amigo Thiago,
ResponderExcluirVocê, como de costume, foi claro, objetivo e contundente nas suas competentes observações, e com uma patriótica visão do que realmente ocorre em nosso País e que poucos ousam falar. Muitos se omitem, ou até não percebem por serem vítimas dessa alienação proposital que induzida por nossas autoridades e outros interesses promíscuos que preponderam. Somos um país que tem tudo para ocupar o top de linha em diversos seguimentos, inclusive no esporte, mas que por descuro dos maus administradores padecemos de contrassensos absurdos. Enquanto com uma visão político-interesseira e imediatista investem bilhões em obras que, justificadas sim, mas não que merecessem a primazia diante das carências maiores que temos em várias áreas e providências como Saúde, Educação, Segurança, Reformas (agrária, tributária etc.) entre outras. O seu olhar perspicaz ao acompanhar oportunamente cada desses eventos lhe confere o nosso justo reconhecimento e que prossiga nesse rumo. Um dia alcançaremos nossos propósitos que são um Brasil mais igual justo, solidário e humanitário. Aproveito e lembro o grande pensador Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons!”. Parabéns e Bom trabalho!