A
liberdade é uma das ideias humanas mais cultuadas e amadas. Sua expressão e vivência
demonstram o poder e a capacidade de um sujeito estando no cerne de sua
experiência cidadã.
Os
seres humanos, contudo, temos o improvável desafio de viver a liberdade em
coletivos organizados em sociedade. Essa convivência social requer, de uma
forma objetiva ou subjetiva, que restrinjamos de alguma forma nossas liberdades
individuais a fim de se permitir uma coexistência minimamente harmônica.
O
médico e criador da psicanálise Sigmund Freud observou no pacto social o compromisso que temos de reprimir nossos instintos
mais primitivos e desejos encobertos como caminho para uma vida possível em
sociedade. Dessa forma nós abriríamos mão da saciedade completa para que, dessa
forma, todos pudessem sentir um determinado grau de satisfação.
Nesse
contexto percebemos dois fortes elementos como promotores da liberdade humana:
a Educação, no momento que potencializa uma existência plena do homem através
do conhecimento; e a Justiça, quando vem mediar os conflitos e arbitrar
soluções que visem o bem comum.
Esses
dois elementos culturais, a Educação e a Justiça, formam, juntamente com a área
da Saúde, os campos que veem buscando uma intervenção exitosa no campo da
dependência química. Certamente, entre todas as discussões atuais que conjeturam o tema
liberdade, o consumo de substâncias psicoativas seja o debate que mais instiga
e comove.
Alguns levantamentos
produzidos no Brasil, como o da Convenção Nacional dos Municípios, publicado em
2012, revelam que apenas nesse referido ano ocorreram 34.573 mortes de pessoas
devido ao consumo do álcool em nosso país. Vale
ressaltar que esse número não inclui os causados pelo uso do tabaco e de outras
drogas ilícitas.
Baseado em estatísticas
oficiais, essa pesquisa intitulada: "Mortes
causadas pelo uso de substâncias psicotrópicas no Brasil" revela,
inclusive, que os estados com maior incidência de mortes relacionadas ao uso de
substâncias psicotrópicas (álcool e tabaco) são Minas Gerais, São Paulo e
Ceará.
É manifesto que o aumento do uso de substâncias psicoativas tem gerado
prejuízos no mundo produtivo, nas relações sociais com o surgimento de doenças e
a ‘cronificação’ de outras, além de demandado o investimento bilionário dos
governos federal, estadual e municipal em ações nem sempre conexas e eficazes.
Apesar de evidências contrárias, é crescente o debate a cerca da liberação
do consumo de produtos a base de ervas como a maconha (Cannabis sativa). Personalidades do mundo artístico e político
defendem a liberação de “todas as drogas possíveis” tendo em vista “o fim de
uma guerra fracassada contra o consumo e o tráfico de drogas”.
Se por um lado a busca pela expansão dos direitos, da liberdade e do
aumento do prazer são movimentos inerentes do humano. Por outro, é relevante
projetar os acontecimentos tendo em vista que nem todas as decisões são
reversíveis. Inclusive, se caminhamos para um processo gradativo de ampliação
das liberdades e do prazer, para onde caminha a Humanidade?
Nossa sociedade confia oportunamente tanto nas instituições de ensino como
nas jurídicas. Isso representa que essas instituições devem continuar e também ampliar
seus recursos e mecanismos de intervenção quando demandadas sobre os temas
polêmicos que divisam e confundem a sociedade.
A
escola deve atuar, juntamente com a saúde, numa estratégia lamentavelmente
pouco realizada: a prevenção das crianças e jovens. Amainar preconceitos, elucidar
conceitos, trabalhar estigmas e fortalecer vínculos sadios são estratégias inteligentes que devem ocorrer
através do diálogo.
O
judiciário, por sua vez, deve aprofundar uma abordagem interdisciplinar da dependência
química, tendo em vista não somente o discernimento do tema, mas uma abordagem
humanizada do sujeito que acorre aos fóruns e comarcas em todo o país.
Compilando
experiências exitosas e promovendo ações tanto criativas quanto inovadoras,
certamente não ganharemos nenhuma guerra. No entanto, estaremos trilhando um
caminho republicano de desenvolvimento social, avançando na construção de um
mundo mais compreensivo e comprometido com a paz, o amor e a liberdade.