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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

GESTÃO CULTURAL: TENDÊNCIAS E DESAFIOS



Graças aos temores da crise econômica internacional, mas também relacionado à falta de conhecimento da potencialidade da cultura entre nós, percebe-se certa falta de originalidade nas políticas públicas do campo cultural. Dado algumas exceções como os pontos de cultura, a disseminação de bibliotecas, a preservação do patrimônio imaterial, o lançamento de editais mais acessíveis, realização de eventos e formações especializadas, dentre outros, evidencia-se um quadro de descontinuidade nas políticas de Estado, falta de experiência e até despreparo na gestão pública da cultura e do patrimônio histórico.
Reconhecimentos nominais devem recair, no âmbito cearense, para o Prêmio Mestres da Cultura (e o respectivo Encontro Mundial), Prêmio Para Autores Cearenses (um dos maiores editais literários do país), ambos do Governo do Estado do Ceará. A gestão cultural municipal da Prefeitura de Fortaleza, também merece ser citada: com a revitalização, tombamento e construção de órgãos ligados à cultura, arte e lazer nos últimos anos. Memorial da Carnaúba, OFICART e Som das Carnaubeiras, para citar experiências organizadas pela sociedade na região jaguaribana, que contam com algum apoio do poder público.
Percebida em várias esferas, a estagnação cultural não é maior graças a dois fatos isolados e próximos ao mesmo tempo: primeiro ao esforço de artistas, grupos e pesquisadores abnegados que buscam espaço e expressão. Segundo devido à indústria cultural, entendida aqui como aquela que viabiliza o produto para as grandes massas, com objetivos mais propriamente comerciais do que com preocupações estéticos e de bom gosto.
Felizmente o conceito de cultura, monumento, arte, patrimônio tem se ampliado. O bastante para confundir os técnicos e gestores e complicar ainda mais o campo da política escolar, cultural e patrimonial. Por outro lado uma avalanche de possibilidades e tendências paralisa aquele que pretende se ocupar em agradar a todo mundo.
Realmente a cultura é algo muito grande e valioso para ficar nas mãos dos gestores. Mas os governos devem ter sensibilidade para captar as demandas e viabilizar as potencialidades que a gestão da cultura encerra. Isso sem tirar a liberdade e a independência do autor, do artista, do produtor cultural. Difícil equilíbrio.

Nesse contexto de muitas possibilidades e pouca clareza, Hugues de Varine traz a possibilidade de conciliarmos desenvolvimento econômico e cultural, riqueza histórica e vivência cotidiana da cidade. O consultor internacional de origem francesa é autor do livro: “As raízes do futuro: o patrimônio a serviço do desenvolvimento localoriginal do francês “Les racines du futur - Le patrimoine au service du développement localcom tradução atualmente esgotado no Brasil.

Varine participou ativamente do evento realizado pela UNESCO no Chile e que resultou na Carta de Santiago, em 1972. Dentre outras inovações, o documento ali escrito legou a possibilidade e viabilidade do equipamento cultural está vivo, aberto e a serviço da sociedade do seu entorno. Com essa nova concepção, os museus tradicionalmente influenciados pela metodologia norte-americana e europeia, passaram a ganhar uma conotação menos “antiga” e “morta” se tornando espaços de relevância para a comunidade do entorno. Varine ainda cita em sua palestra no Museu do Ceará o caso francês, onde a grande riqueza de museus está hoje, entre outras demandas, a serviço dos descendentes de imigrantes que habitam em considerável número cidades como Paris.

O autor que conheceu e é admirador de Paulo Freire visitou experiências em Maranguape e Aquiraz e confirmou, conhecendo o Ceará, a impressão da originalidade do povo brasileiro.

O desafio se coloca para o prefeito eleito Roberto Cláudio dar prosseguimento ao movimento iniciado na gestão petista. Fica o convite para todos os gestores municipais olharem com respeito e cuidado tudo que diz respeito à identidade de sua cidade, seja patrimônio cultural ou natural, material ou imaterial. Espera-se do Governado do Estado ousadia na interiorização da cultura, elemento fundamental para o desenvolvimento humano e comunitário de uma sociedade.

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