Graças
aos temores da crise econômica internacional, mas também relacionado à falta de
conhecimento da potencialidade da cultura entre nós, percebe-se certa falta de
originalidade nas políticas públicas do campo cultural. Dado algumas exceções como
os pontos de cultura, a disseminação de bibliotecas, a preservação do patrimônio
imaterial, o lançamento de editais mais acessíveis, realização de eventos e
formações especializadas, dentre outros, evidencia-se um quadro de
descontinuidade nas políticas de Estado, falta de experiência e até despreparo
na gestão pública da cultura e do patrimônio histórico.
Reconhecimentos
nominais devem recair, no âmbito cearense, para o Prêmio Mestres da Cultura (e
o respectivo Encontro Mundial), Prêmio Para Autores Cearenses (um dos maiores
editais literários do país), ambos do Governo do Estado do Ceará. A gestão cultural
municipal da Prefeitura de Fortaleza, também merece ser citada: com a
revitalização, tombamento e construção de órgãos ligados à cultura, arte e
lazer nos últimos anos. Memorial da Carnaúba, OFICART e Som das Carnaubeiras, para
citar experiências organizadas pela sociedade na região jaguaribana, que contam
com algum apoio do poder público.
Percebida
em várias esferas, a estagnação cultural não é maior graças a dois fatos
isolados e próximos ao mesmo tempo: primeiro ao esforço de artistas, grupos e pesquisadores
abnegados que buscam espaço e expressão. Segundo devido à indústria cultural,
entendida aqui como aquela que viabiliza o produto para as grandes massas, com
objetivos mais propriamente comerciais do que com preocupações estéticos e de
bom gosto.
Felizmente
o conceito de cultura, monumento, arte, patrimônio tem se ampliado. O bastante
para confundir os técnicos e gestores e complicar ainda mais o campo da
política escolar, cultural e patrimonial. Por outro lado uma avalanche de possibilidades
e tendências paralisa aquele que pretende se ocupar em agradar a todo mundo.
Realmente
a cultura é algo muito grande e valioso para ficar nas mãos dos gestores. Mas os
governos devem ter sensibilidade para captar as demandas e viabilizar as
potencialidades que a gestão da cultura encerra. Isso sem tirar a liberdade e a
independência do autor, do artista, do produtor cultural. Difícil equilíbrio.
Nesse contexto de muitas possibilidades e pouca clareza, Hugues de Varine traz a possibilidade de conciliarmos desenvolvimento econômico e cultural, riqueza histórica e vivência cotidiana da cidade. O consultor internacional de origem francesa é autor do livro: “As raízes do futuro: o patrimônio a serviço do desenvolvimento local” original do francês “Les racines du futur - Le patrimoine au service du développement local” com tradução atualmente esgotado no Brasil.
Varine participou ativamente do evento realizado pela UNESCO no Chile e que resultou na Carta de Santiago, em 1972. Dentre outras inovações, o documento ali escrito legou a possibilidade e viabilidade do equipamento cultural está vivo, aberto e a serviço da sociedade do seu entorno. Com essa nova concepção, os museus tradicionalmente influenciados pela metodologia norte-americana e europeia, passaram a ganhar uma conotação menos “antiga” e “morta” se tornando espaços de relevância para a comunidade do entorno. Varine ainda cita em sua palestra no Museu do Ceará o caso francês, onde a grande riqueza de museus está hoje, entre outras demandas, a serviço dos descendentes de imigrantes que habitam em considerável número cidades como Paris.
O autor que conheceu e é admirador de Paulo Freire visitou experiências em Maranguape e Aquiraz e confirmou, conhecendo o Ceará, a impressão da originalidade do povo brasileiro.
O desafio
se coloca para o prefeito eleito Roberto Cláudio dar prosseguimento ao
movimento iniciado na gestão petista. Fica o convite para todos os gestores
municipais olharem com respeito e cuidado tudo que diz respeito à identidade de
sua cidade, seja patrimônio cultural ou natural, material ou imaterial. Espera-se
do Governado do Estado ousadia na interiorização da cultura, elemento
fundamental para o desenvolvimento humano e comunitário de uma sociedade.
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